Entrevista a Joaquim Rocha da Cunha:
“Servir as PME é um modo de vida!”
Fundada em 1998, a Associação PME Portugal foi liderada por Joaquim R. Cunha de 2001 a 2009. Desde 2009, ocupa o cargo de Presidente do Conselho Nacional. Dedicado à causa das PME em Portugal, fomos à descoberta das suas mais recentes atividades desde que saiu da presidência da PME Portugal.
[PME NEWS] Porque razão não se recandidatou a Presidente Executivo da PME Portugal em 2009?
[Joaquim R. Cunha] Na altura expliquei o motivo alegando cansaço natural e necessidade de renovação após três mandatos consecutivos – tinha-a aliás anunciado na tomada de posse dos 70 dirigentes nacionais em 2006, no Porto. Durante as eleições de Setembro de 2009, as PME estavam na “moda”, todos os políticos falavam das PME e afirmavam que o desenvolvimento económico dependia das PME. Confesso, quando ouvi o sketch dos gato fedorento sobre as nano-micro-mini-PME tive a sensação de missão comprida! Quando comecei na PME Portugal, ninguém falava das PME - quando saí, não se falava de outra coisa!...
[PME NEWS] Assim, depreendo que saiu porque a sua missão tinha acabado?
[Joaquim R. Cunha] Eu acredito que as pessoas devem escolher algo na vida em que acreditam e dedicar a sua vida a essa causa. Para mim, servir as PME e o empreendedorismo é um modo de vida! Associações e Presidências não são o fim mas o meio. Quando saí tinha uma aposta clara na minha mente, um projeto que, se der certo vai beneficiar mais as PME simplesmente porque esse projeto consiste em gerar mais receitas às PME e ter mais e melhores empreendedores, que tornem o país mais rico e mais único!
[PME NEWS] Mas... em 2010 esteve no Brasil?
[Joaquim R. Cunha] Exatamente! Quando o país entra numa crise profunda e prolongada como se previa nessa altura e infelizmente está a acontecer as causas são visíveis: mercado nacional em contração e dificuldades de liquidez agravadas para as PME que têm menos reservas. Na prática, isso quer dizer que não existe mercado e o dinheiro falta para apostar em novos mercados. Como sempre dediquei a minha vida a apoiar proactivamente as PME tomei a atitude certa: fui para o Brasil investigar aquele que é o mais promissor mercado do mundo para as PME portuguesas. Literalmente, mudei-me para o Brasil! A razão dessa mudança é clara: conhecer o país, o mercado e criar uma infraestrutura de apoio para às PME. Poderia ficar em Portugal a queixar-me da situação económica e a reclamar as políticas de austeridade ou, ser parte da solução para as PME incentivando estas a descobrir um mercado imenso em forte crescimento como o brasileiro!
[PME NEWS] Conte-me um pouco dessa aventura no Brasil...
[Joaquim R. Cunha] A minha missão pessoal teve três fases distintas: primeiro comecei por estabelecer parcerias estratégicas e contactos que possam beneficiar quem quer conquistar o mercado brasileiro. O Brasil não é um país europeu, não faz parte de uma comunidade económica com Portugal e isso altera todas as regras de jogo comparativamente a estratégias como as de exportação nacional para a comunidade europeia. O mercado brasileiro é fechado, protecionista e com regras muito próprias e distintas por vezes entre os vários Estados. A primeira fase passou por criar lá uma empresa (a Atlântico Invest) e estabelecer parcerias e contatos com as várias instituições brasileiras. Hoje a lista de instituições públicas e privadas associadas é de tal forma extensa que tornaria esta newsletter num testamento (risos)! A segunda fase, foi apoiar várias empresas a estabelecerem-se no Brasil e transferir parte da rede que instalamos para apoiar essas empresas. Orgulho-me de ter apoiado e racionalizado vários investimentos no Brasil de inúmeras empresas nacionais. Contudo, a crise agravou a situação económica das empresas nacionais que, apesar de terem bons produtos que seriam enormes sucessos comerciais no Brasil, não têm capacidade de fazer os investimentos necessários para atingir esse sucesso.
Surge assim a necessidade de ser-se mais criativo e interventivo. Não quero apenas apoiar as médias empresas nacionais quero apoiar as micro e pequenas com valor! O novo projeto (terceira fase), consiste em criar uma mega-organização (batizada de Transatlantico!), que distribui no Brasil todos os produtos portugueses com valor para esse mercado.
A Transatlantico é um distribuidor no Brasil dos produtos das PME nacionais. Acima de tudo é a solução acessível às PME para saírem da crise! Vender no mercado Brasileiro é uma das vias para a crise nacional! Na minha opinião, é a melhor via para as PME em Portugal e o projeto Transatlantico é a forma como estas podem fazê-lo!
[PME NEWS] Acha que com a Transatlantico, está a apoiar melhor as PME do que quando na PME Portugal!
[Joaquim R. Cunha] São períodos económicos distintos que carecem de formas distintas para fortalecer as PME! A PME Portugal quando surgiu tinha como missão colocar as PMEs como força económica que são. Trata-se de um desafio interno, as PME são o motor da nossa economia. Hoje, quem paga a crise é quem trabalha! Logo como quem trabalha em Portugal são as PME, grande parte da fatura vai para estas. Isso gera um novo ciclo e novos desafios. As PME em Portugal têm de encontrar formas de faturar internacionalmente, de exportar para acelerar a saída do país da crise em que se encontra. Um papel ativo nesse novo ciclo não poderia ser por via da PME Portugal. Nunca iria pedir aos sócios que pagassem por uma via não provada. Por isso não continuei na liderança da PME Portugal e fui com os meus próprios meios tentar encontrar uma solução. Transatlantico é essa solução! Hoje sinto-me realizado pela aposta ganha e por poder trabalhar num projeto de vida: apoiar as PME! Sempre!