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PME NA HORA Notícias


03-02-2009 REINVENTAR PORTUGAL

Reinventar Portugal é o desafio proposto pelo economista Joaquim Cunha, presidente da PME-Portugal, onde numa entrevista concedida ao jornal “O Diabo” realça a importância das empresas não se focarem apenas nas dificuldades da economia portuguesa, mas sim para se concentrarem nas oportunidades. Sem dúvida, uma mensagem de optimismo que o presidente da PME-Portugal pretende passar a todos os associados e PMEs em geral.

 

 ENTREVISTA O DIABO – 28Jan09

 
1 — Qual é o maior desafio que se coloca à economia portuguesa este ano, em que estamos a atravessar uma grave crise?
 
O maior desafio que se coloca à economia portuguesa este ano resume-se a uma palavra: reinventar-se! A crise que estamos a atravessar deriva de uma nova era, a era da informação. A economia é agora digital e por isso, a crise que se sente globalmente surge da falta de capacidade de reinvenção principalmente de sectores mais representativos da era industrial (era anterior) que originou sectores como a banca e a indústria automóvel hoje fortemente abalados porque ainda não se reinventaram!
Por essa razão o desafio não reside em sobreviver a uma época de crise, mas prosperar numa época crítica!
A crise é global e isso cria um impasse económico que irá originar novos empreendimentos, sectores e novas fortunas àqueles que tiverem uma forte capacidade de se reinventarem. 
Portugal pode originar esses empreendimentos como qualquer outro país! Teoricamente as oportunidades são iguais. Sabemos também que em Portugal as novas oportunidades não são iguais para todos, e a sociedade tem que ultrapassar esses vícios do antigo regime !   
Posto isto, surge a necessidade de ser capaz de se reinventar, reinventando-se as empresas, os empreendedores,  a sociedade e , consequentemente,  o Estado.  
A missão de reinventar a nossa economia não é dos governantes, é de cada um de nós.
A civilização enquanto a conhecemos, as primeiras cidades, derivaram duma sedentarização. Curiosamente surgiu na antiga Mesopotâmia, algures entre Damasco, Teerão, Cairo e Bagdad - terras que hoje só “inovam” nas piores áreas.
Esta civilização que equivaleu á apropriação e domínio de técnicas de produção agrícolas, regularizando o que a natureza “dava” e propiciando fixação de populações em urbes, não aconteceu porque o chefe da tribo nómada – o caçador forte e grande - disse: "vamos pôr umas sementinhas num buraco para ver o que acontece"!
Quando os portugueses chegaram á China no século XVI, tornaram-se num Império dum país pequeno que abordava um Império dum gigantesco mas decadente país. Os portugueses além de receberem Macau em oferta do Imperador, introduziram o relógio e os canhões em Pequim. Não apenas a tecnologia, mas os próprios operadores, pois a liderança chinesa desprezava essas modernices ocidentais…
O que muitos ignoram é que por culpa própria os chineses tinham perdido uma capacidade tecnológica milenar. Isso ocorreu, porque o Imperador que ascendeu ao trono em 1430, começou uma política isolacionista que perduraria por séculos, mandando destruir frotas de enormes de navios.  
Por isso quando no século seguinte os portugueses navegaram na costa da China, eram legitimamente, “senhores dos mares”. Com menos e piores barcos e incomensuravelmente menos homens do que aqueles que a China tinha tido na marinha - apenas um século antes! Note-se que apenas em 1415 – um século antes - começou a expansão marítima portuguesa com a conquista de Ceuta, sua primeira “lança em África”.
Ao mandar destruir os barcos, matar os projectistas, queimar as plantas, e finalmente queimar toda a madeira na costa chinesa, os chineses condenaram-se ao isolamento e empobrecimento para séculos.
Ou colocando a questão doutro modo, na revolução industrial, qual seria a posição de um rei se imaginasse que o advento das máquinas iria gerar novas classes sociais poderosas ao ponto de poderem acabar com a monarquia?
Ou de se permitir alimentar em pleno capitalismo as ideias e práticas subversivas de Marx, burguês, que vivia de rendimentos de família nas mordomias de Londres?
Ou antes disso, teria Pedro o Grande, feito embaixadas ao ocidente e ocidentalizado a Rússia, construindo a nova capital São Petersburgo, se imaginasse que da burguesia dessa cidade nasceriam conspiradores tão activos quanto Lenine?
Fechavam a porta á inovação? Ficavam isolados, marginais e reféns?
Por isso, não podemos acreditar que Portugal vá de alguma forma prosperar na economia digital só porque o governo criou um “Plano Tecnológico”!
O maior desafio de Portugal reside na capacidade dos portugueses tornarem-se empreendedores reinventando a nossa economia, sem esperar pelo Estado ou pelo Governo.
Se queremos que o Estado mude então devemos reinventar o nosso país reinventando a nossa vida entrando numa nova era . A era de Portugal!
Nesta era, constrói-se  um país que se inventou conquistando um espaço próprio, á custa do primo Castelhano e correndo os líderes mouros para África,  
Tal como  se reinventou nas descobertas, quando faltava mercado em Portugal.
Como inovou nas parcerias público-privadas, pois foi com autorização pública e risco privado que se fizeram 100 a 100 kilómetros a descoberta e ocupação da costa africana com feitorias.
Que se reinventou no Pombalismo, rompendo com o atavismo dos excessos de dependência de doutrinas (inquisição) e fatalismos (falta de organização e planeamento)
Que se reinventou quando descolonizou (e bem o Brasil), passado de pai para filho! Um Império gerava outro Império, esse país Continental o Brasil!
Que se reinventou quando apostou nas colónias e na EFTA nos anos 60, tarde, mas apostou, crescendo 8% ao ano lado a lado com o milagre Coreano.
Que se reinventou na entrada na União Europeia, o “bom aluno europeu”, onde todos os alemães queriam investir.
E que, uma vez mais, tem que encontrar o seu espaço mundial, o seu modelo, a sua estratégia no século XXI.
Isso passa pela reinvenção de cada um dos portugueses, mais do que pela espera da mudança de governação ou do Estado.
Temos que nos inovar, senão ficamos obsoletos. Este é o desafio.
É difícil, mas é o desígnio.
 
Como quando chegamos ao Algarve, passou a ser África; e, quando torneamos África passou a ser o mundo.
Pensar o mundo como a ínclita geração. Pensar em grande, mas com recursos limitados e sem excesso de gasto.
Voltar ao David contra Golias. Como quando tornamos o Adamastor na Boa Esperança!
 
 
2 — Quais serão as maiores dificuldades que a economia portuguesa vai enfrentar em 2009? 
 
Em vez de nos questionarmos sobre as dificuldades, porque não concentrarmo-nos nas oportunidades? Quem apenas pensar nas dificuldades que virão amanhã, não chega á praia. Por isso libertemos a nossa mente dos problemas da tesouraria no fim de cada mês – eles não desaparecem porque pensamos neles – e de Freeports e PINS para algo de melhor e mais aliciante.
A crise é global e isso cria um impasse económico que irá originar novos empreendimentos, sectores e novas fortunas àqueles que tiverem uma forte capacidade de se reinventarem.  
Portugal pode originar esses empreendimentos como qualquer outro país!  Á partida, as oportunidades são iguais…
Assim, as maiores dificuldades que poderemos enfrentar são duas: a passividade e o Estado! 
Portugal falhou redondamente na adesão à Revolução Industrial que mais do que criar um atraso económico significativo colocou o país e o seu povo numa espiral descendente. Portugal está aliás em decadência económica desde 1820, data da revolução liberal que acabou com a Monarquia absoluta, sobretudo porque obrigou a corte e as atenções dos líderes a fecharem-se neste rectângulo de 88.000 kms, esquecendo o resto de Portugal – do Minho a Timor, passando por Brasil e Africas.
No apelo às armas da nova economia que aí vem – ninguém sabe qual é o bang -não podemos faltar! Por isso temos de quebrar com as atitudes passivas, com os "chicos-espertos" e o provincianismo de que o que vem de fora é que é bom!
É altura de não permitir que as coisas nos aconteçam. È altura de fazermos acontecer coisas!
A passividade que se vive em Portugal surge da nossa capacidade de culpar os outros! 
Hoje, os portugueses culpam o Estado como outrora no século XIV culpavam Deus pelo que lhes acontecia. Nessa altura, a Igreja respondeu a essas lamentações com a causa da cristianização dos muçulmanos e do resto do mundo.
Mas então o português parou de se lamentar, reinventou-se e partiu à descoberta de novos mundos. Nasce, assim, a Era de Portugal 2.0! (a era 1.0 foi a fundação).
Pelo mesmo princípio, o Estado não pode tentar reduzir as lamentações com investimento público que ao apoiar uns prejudica outros seus concorrentes.   Instalando um sentimento de que este país não é igual para todos
Por isso nem vale a pena lutar por um Portugal melhor.
O papel do Estado é, tão somente, encontrar uma causa mobilizadora dos portugueses, levando-os a reinventarem-se na nova economia. Algo do tipo: "cristianização digital"!
A maior ameaça para a economia portuguesa é não partir para a acção, para o empreendedorismo!  
O não ser capaz de se reinventar a si própria, partir para uma nova: empresas, pessoas, jovens, seniores, associações, políticos. Temos que fazer delete, e recomeçar, com os nossos fundamentais, marchar, marchar.  
Reinventar Portugal! 
Utilizar a saudade (da Era de Portugal 2.0), não como conforto porque uma vez fomos bons, mas como exemplo de que poderemos voltar a ser bons!
O próprio fado já foi reinventado com a Mariza entre muitos outros exemplos que são sucessos fenomenais a nível internacional!  
Assim, temos de encontrar os fracos de hoje (leia-se: o capital humano português muito bem qualificado) e deixá-lo ser a Mariza do seu sector! 
Será que o fim da Qimonda, não será a libertação criativa dos seus altamente qualificados empregados? Não sairão dali uns 600 engenheiros altamente preparados para lançarem start-ups na economia digital? Claro que sim.
Então a discussão não devia ser “nacionalize-se a Qimonda”; despeje-se dinheiro em cima da Qimonda; pague-se a algum grupo internacional para que finja que a vai continuar…não!!
Não se deveria focar o Estado em criar condições para apoiar 600 auto-empresas digitais e incubá-las nas instalações que poderão ficar vazias a 1 de Abril? Não é piada, é a inevitável deadline, é verdade, é possível. YES WE CAN!
Criar uma geração de empreendedores é a formula para construir a Era de Portugal i9.0. Reinventando a nação valente e imortal.
 
 

 
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