É de fato difícil para um português entender como o café expresso possa ser mais caro no Brasil (maior produtor de café do mundo), como o cimento possa se mais caro em Angola que em Portugal (Angola tem rocha asfáltica), como um IPad tenha o dobro do preço na Argentina que nos Estados Unidos, ou que um “croissant” custe mais em Xangai do que em Paris e um McDonald’s custe mais em Pequim do que em New York!

 

 

Observando com mais atenção, isto sucede e tem várias razões para assim ser, tais como:

 

- Os países emergentes em causa, possuem cada vez maior nível de rendimento disponível.

 

- As classes médias destes países, têm uma procura reprimida por falta de oferta.

 

- A falta de oferta local deve-se á especialização dos mesmos países em produzir para exportação outros produtos menos sofisticados (matérias primas e manufaturas), que não têm o design, a história, qualidade ou a marca dos produtos ocidentais.

 

- Contudo a mesma classe média tem um nível crescente de rendimento, e montantes adicionais, disponíveis para gastar, por ter menor endividamento e portanto, maior rendimento disponível.

 

- O produto ocidental, ou europeu, ou português, é associado à sofisticação, qualidade, história e/ou modernidade, e portanto é esse produto que é bom na visão do consumidor local.

 

 

O que retrata as economias destes países emergentes, é que fruto do seu constante crescimento e elevação do rendimento disponível, geram classes médias com enorme atitude consumidora, restringida pela falta de oferta. Há em todos eles falta de oferta, falta de stocks, falta de variedade, e isso deve-se ao seu crescente consumo e falta de capacidade de o suprir.

 

Essa falta de capacidade de suprir a oferta explica também os altos preços que a generalidade desses produtos tem. Aplicação simples da lei da oferta e procura. Se a procura cresce mais do que a oferta, ou se esta fica constante, o preço sobe. Razão aliás que explica boa parte do crescimento da inflação nestes países, dado que existe um posicionamento tático de açambarcamento por quem tem stocado o produto mais desejado.

 

Para um ocidental, é difícil entender que exista procura e não exista oferta. As razões são razoavelmente simples e têm que ver com as seguintes  procedimentos e passos a cumprir:

 

                    - Transporte;

                    - Importação/trading;

                    - Distribuição;

                    - Infra-Estrutura;

                    - Regulamentação;

                    - Imobiliário;

 

O ocidental seja de Portugal, Espanha ou Estado Unidos, imagina estes países como os seus com grandes mercados continentais sejam NAFTA (USA/Canadá/México) ou União Europeia (27 países da U.E./Noruega/Suíça), onde existe uma facilidade enorme de transportes, de pagamentos, de infra-estruturas para transportar no mesmo continente as mercadorias, onde a moeda é regra geral U.S.Dólar ou Euro, onde há redes de bancos, legislação comum, facilidade e encontrar imóveis ou de os promover em novas operações, e sobretudo, sobretudo não há alfândegas e/ou existem zonas de livre comércio sem barreiras á exportação de produtos entre as economias.

 

Ora saído da América do Norte e da Europa, por aquilo que geralmente se conhece por mundo ocidental, todos aqueles fatores dados como adquiridos, desaparecem!

 

Primeiro porque exportar para os países emergentes envolve enviar por via marítima em contentores. 

 

Depois porque esses contentores têm que conseguir atracar no porto certo e ser desembaraçados, e reencaminhados via cabotagem para outros portos (muitos do portos dos países emergentes estão congestionados).

 

Segue-se o processo de inspeção e desalfandegamento, com burocracia e custos de importação associados, burocracia essa que é totalmente local e complexa.

 

Seguem-se os impostos. As taxas de importação são de imediato cobradas, o que nalgum caso inclui o IVA/VAT local, após o que ficam livres para serem armazenados antes de entrarem no mercado. Atenção porque nas Alfândegas os emergentes são rigorosas, preparadas tecnicamente e bem equipadas tecnologicamente, recolhem boas receitas e protegem as suas economias (proteccionismo e divisas/balança comercial).

 

Dependendo de mercado para mercado há melhores ou piores soluções de armazenagem e transporte. Mas são diferentes. Porque o custo do imobiliário é especulativamente crescente, mas também porque as vias de comunicação não são comparáveis às Europeias ou Norte-Americanas.

 

Aí (ou antes) há que determinar se sabe se o produto cumpre com os requisitos legais locais: por serem emergentes não deixam de ter regras próprias e padrões de qualidade, exigência ou registos de propriedade industriais e lei de distribuição muito específicas, bem como um quadro fiscal diferente do Europeu ou Norte-Americano. Em vários casos os produtos (suas amostras) terão que ser homologados e ou vistoriados e inspecionados por laboratórios acreditados para tal.

 

E então finalmente em condições de estar vendável no mercado, esses produtos encontram a procura crescente, e terão que ser colocados nos canais de distribuição locais, ou em venda direta ao cliente. Devido ao elevado crescimento econômico os canais de distribuição estão ainda em definição do controlo do mercado, em expansão geográfica/especialização, alargamento de redes. Nestes países, ao contrário do Ocidente, não é a Wal-mart, o Carrefour ou a Makro que ditam as regras, pois o mercado cresce mais do que eles. Este tema dos canais de distribuição nos emergentes é muito amplo e merece outro artigo a ler por aqui...

 

Ou seja, os preços podem ser 3, 5, 8 ou 10 vezes os seus preços no mercado da União Europeia ou Estados Unidos da América, o que se deve, não ao domínio do mercado pelos distribuidores (como pensam sempre o Ocidental), mas pelo elevado crescimento do mercado, do rendimento, das compras e da complexidade envolvida até ter o produto no mercado, para os que de fato o sabem trabalhar. Há muito espaço, mas é preciso investir e trabalhar até chegar ao mercado.

 

 

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Lurdes Mota Campos