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28/09/2007 COMO EVITAR NOVAS CRISES FINANCEIRAS

Estávamos – alguns – a entrar em férias e eis que aparece a crise do Sub-Prime. Da rápida análise de que as condições de concessão de crédito nos EUA estavam abaixo daquilo que a prudência e o bom senso recomendaria, o efeito parece ter alastrado aos espíritos mais, inquietos e às economias mais endividadas.
  
Mesmo em Portugal, onde a concessão de crédito é muito mais rígida e assente na capacidade de pagamento do mutuário (ignorada no mercado Sub-Prime EUA), se sentem os efeitos. Escrevo esta crónica no dia em que o BPI por prudência decide liquidar e resgatar um fundo de obrigações de baixo risco. E poucos dias após, Ernâni Lopes ter recordado que ainda há 20 anos éramos um exemplo em poupança.
 
Em semana dos novos economistas promovida pela Ordem dos Economistas, recordo-me de quando estudava em Económicas e Miguel Cadilhe, então Ministro das Finanças lançava o “livrinho da poupança”, destinado a estimular algo que com a adesão à CEE e crédito fácil ao consumo que começava a perder. Ora perdeu-se mesmo.
 
E não sendo defensor de uma regulação muito forte, áreas existem em que a evolução do ensino e da “educação”, não acompanhou a dinâmica da globalização, da generalização do crédito, do mercado de grande consumo.
 
É um facto que nem todos têm a mesma educação, mas é sobretudo uma nova realidade a facilidade e profusão de pequenos mas cumulativamente grandes plafonds atribuídos quase automaticamente a quem quer, mesmo que não possa de facto pagar, nem precise.
É também um facto, que esse endividamento gera problemas sociais e pessoais, quando se vence a dívida e não como a pagar. Gera instabilidade. Promove a litigância. E diria mesmo mais, pode incentivar o roubo.
 
Também é um facto que a taxa de incumprimento do crédito ao consumo é o triplo daquelas correspondente às empresas. E que numa economia endividada e dependente do exterior, o crédito ao consumo só estimula essa perversão.
 
Portanto, com o alerta generalizado, dado por notícias, reguladores, analistas, e enfim, pessoas informadas, mais do que uma regulação forçada, deveria o sector da concessão de crédito rever a sua forma de actuar e auto regular-se. Claro que embora, alguma publicidade do género “receba 500 euros com um telefonema”, não me pareça propriamente prudente, o problema maior é o da educação das pessoas.
 
Uma população activa em que apenas um quarto completa o 12º ano, não é o melhor exemplo. Se a este indicador juntarmos a falta de instrução financeira. Porque as pessoas não sabem calcular, fazer contas, fazer um orçamento familiar, planificar. E porque nestes vinte anos de Europa, se perderam alguns valores de prudência e poupança, parece-me que mesmo que amanhã fosse implementado nos curricula do ensino obrigatório uma disciplina de educação financeira, isso não obstaria a que este problema subsista por mais algumas gerações.
 
Para fechar este tema, o que o país necessita é crédito ao investimento, á exportação, pois só e apenas essa aposta nos tirará da crise. Essa aposta não depende nem apenas dos operadores, nem dos reguladores de mercado. Depende de quem promove políticas públicas. E o país, as empresas e as famílias, necessitam desse estímulo positivo.
 
Artigo publicado no jornal Semanário Económico, de 28 de Setembro de 2007