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11/01/2008 SEM EXPORTAÇÕES O QUE SEREMOS?

O recém-eleito Bastonário da Ordem dos Economistas abriu as entrevistas do ano neste jornal alertando que Portugal não está verdadeiramente a crescer. Sendo certo que o justificou este aparente contra-senso (ultima previsão BdP aponta crescimento do PIB de 1,9%) por comparação com o crescimento da economia europeia e mundial, certo é que quem é Chairman da GALP tem seguramente outros indicadores micro que fundamentem o seu cepticismo, ainda mais insuspeito, por vir de um ex-Ministro socialista e membro dessa família política.
 
Portugal cresceu, e pouco mais irá crescer em 2008 (1% BdP). Esse crescimento, deve-se fundamentalmente à dinâmica das exportações, que de ano para ano, crescem e são o dobro do crescimento das importações. Mantendo-se gastos públicos, consumo privado com variações estagnadas. Ou seja, crescemos virtuosamente graças às exportações, e ás empresas exportadoras. O que demonstra que as empresas não ficaram á espera de nenhum apoio de nenhuma reestruturação ICEP, de nenhum Governo, para fazerem o país crescer.
 
Ora quase metade das exportações nacionais, que ainda bem, são o motor do crescimento, são oriundas da região norte. Cujas empresas apesar de expostas à globalização, tem sabido vencer os desafios da mesma. À custa de muitos sacrifícios nas empresas, dos gestores e dos próprios trabalhadores. Sem poderem no entanto evitar as chagas sociais, que fugas de multinacionais e encerramento de indústrias inviáveis geraram na região mais pobre do país. Um paradoxo! A sexta região mais industrial da Europa, gera metade das nossas exportações, mas tem um PIB per capita que é metade do de Lisboa.
 
A solução para o crescimento acelerado que temos que ter - alerta lançado por Murteira Nabo – passa na minha opinião por incrementar as exportações. Já! Não daqui a 6 meses ou 2 anos!
 
E incrementar as exportações passa por: estimular as empresas exportadoras a aumentar exportações; e, levar novas empresas a exportar. Passa por criar plafonds e linhas de crédito para os exportadores – muitas empresas não exportam mais por falta de fundo de maneio. E passa por ensinar uma parte das 95% de empresas que ainda não exportam a fazê-lo. Será assim tão difícil? Haverá falta de meios? Não me parece. Afinal o QREN está aí, e todos os seus responsáveis dizem que não falta dinheiro para bons projectos. Mas que melhor projecto haverá para a economia do país do que incrementar as exportações?
Imagine-se que os problemas graves de fundo de maneio que afectam as empresas da sexta região mais industrial da Europa se resolviam. Que as indústrias do norte podiam duplicar as exportações – capacidade produtiva, know-how, qualidade-preço produtos e tecnologia não faltam. Isso não teria um significativo impacto no crescimento?
 
Em 2007 o país cresceu 1,9%. E desse 1,9%, suponha-se academicamente que 0,7% disseram respeito ás exportações. E que as exportações cresceram neste ano mais de 8%. Ora se por acaso elas crescessem 16% em 2008, logo, ceteris paribus, o Produto cresceria 2,6%. Tendo em consideração que o consumo privado continuará estagnado, a o investimento só aumentará com expectativas sólidas de crescimento, e que o investimento público poderá crescer mas não é certo nem eterno - o crescimento terá que passar pelas exportações. E crescendo, essas empresas recrutariam mais mão-de-obra e assim a taxa de desemprego do país (8,2%) e da região norte que supera os 9% e em muitos concelhos industriais tem dois dígitos – desceria para níveis aceitáveis na média europeia dos 6%.
 
Portanto porque esperamos para crescer? Porque se espera para estimular a sério as empresas exportadoras? Porque têm os concursos abertos no QREN tão pouca dotação para “internacionalização”? Porque têm já agora esses mesmos concursos tanta burocracia? Será que o país, os portugueses e os desempregados podem esperar tanto para que alguém descubra esta evidência?
 
Ou vamos continuar distraídos com OTA’s, TGV’s, investimentos que hão-de-vir-sabe-se-lá-quando-e-com-que-custo-rentabilidade social – e que vão aumentar as importações e o endividamento do país, enfim o défice externo. Que já agora é dos mais elevados do mundo, verdadeiro problema do país que só se combate, mais uma vez, com aumento das exportações! Ou vamos continuar a vender activos, mesmo monopólios naturais ou empresas estratégicas, e a perder a nossa identidade enquanto pátria económica – outra não faz sentido.
 
É que segundo J.M. Keynes “no longo prazo estamos todos mortos”. E não podemos adiar o presente nem hipotecar mais o futuro.
A única economia que conheço é a micro-economia. A outra é a má economia.
 
Artigo publicado no Semanário Económico de 11 de Janeiro de 2008