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08/02/2008 ANGOLA, ESPANHA E PORTUGAL

Em Espanha, a bolha especulativa do imobiliário quase rebentou. Não era de facto sustentável um país com 44 milhões de habitantes construir 750.000 fogos/ano (Portugal teve no seu pico cerca de 100.000/ano e anda nos 40.000 novos fogos para 10 milhões de habitantes, e os EUA, para 280 milhões de habitantes, constroem cerca de 1,5 milhões de novos fogos/ano).

  

Este movimento em Espanha foi muito impulsionado como uma forma de aforro e investimento, quer de Espanhóis (a compra de casa para arrendar ou para revender, face à baixa do juro), quer de turistas que viam uma forma de investimento num país onde passam férias. Como os preços subiram demais e a procura não era infinitamente crescente, o movimento teria que parar algum dia. Num fatídico dia de Abril de 2007, o imobiliário caiu 10% na bolsa de Madrid, e os bancos começaram a retirar-se da operação. Mesmo em grandes empresas, os financiamentos começaram a fazer-se com recurso a avais pessoais de administradores e accionistas. E algumas delas têm dezenas de milhares de fogos por vender.
 
Este cenário poderia anunciar uma grave crise para Espanha. Relembrados que estamos do que aconteceu ao nosso imobiliário e à nossa construção desde o início da década e como isso contagiou a economia. Nada de mais errado. Por um lado, a economia espanhola está diversificada. A construção e imobiliário têm peso, mas mesmo elas, têm alternativas. As mesmas empresas que hoje enfrentam problemas no mercado interno, começaram a diversificar os seus empreendimentos para países de Leste e da América Latina (donde vêm a maioria dos seus emigrantes) construindo lá e vendendo em Espanha aos emigrantes, financiando-se construtores e emigrantes que compram casa no país de origem em bancos Espanhóis. Além disso, o superavite Espanhol permite não apenas um ambicioso e continuado programa de obras públicas – para empresas espanholas, que subcontratam portuguesas – mas fortíssimos incentivos ao investimento e à internacionalização.
 
Os países da América latina de colonização espanhola e o Leste europeu estão já sobre forte atenção e investimento de empresas espanholas – com as construtoras vão as hoteleiras, as de materiais de construção, os projectistas, enfim todo um cluster que se internacionaliza e cria valor fora de Espanha, exporta bens, serviços, capital e know-how, ou seja, aquilo que caracteriza uma sociedade moderna.
 
Mas mais paradoxal, ou não, é a atenção que Espanha dá a duas potências emergentes que falam português: o Brasil que é a aposta do ano para as políticas públicas de exportação e internacionalização de Espanha, envolvendo fortes recursos do ICEX Espanhol (o correspondente à nossa AICEP). E mesmo Angola, onde Espanha ainda não se nota(va), começa a ser uma forte aposta. Basta dizer que apesar da concepção da rede de mercados abastecedores de Angola ter sido feita por uma empresas portuguesa, a construção e exploração do principal desses mercados vai ser feito por uma empresa espanhola (o segundo principal por uma brasileira). Nas linhas de crédito à exportação, Espanha já superava Portugal e lançou uma nova e forte linha de crédito, quando nós temos a nossa curta linha de crédito esgotada – e a anunciada ainda não aberta!
 
Mas as oportunidades não esperam por ninguém, e apesar de na rota espanhola estarem muitos tiros e alvos, a verdade é que já descobriram Angola e vão para lá com uma força (financeira e de apoios) que não temos, nem sonhamos ter, aliada à tradicional determinação e objectividade de nuestros hermanos…
 
Nada que de lá vem me espanta pelo arrojo daquela que é a oitava economia do mundo e que nada parece abalar. Mas ainda há dias recebi um grupo de investidores espanhóis, com quem mantenho relações comerciais e cujos interesses se repartem por Espanha, República Checa, no imobiliário e noutros sectores. Tivemos duas conversas sobre Angola, onde lhes dei conta da visão e da dificuldade que aquele mercado – com todo o potencial apresenta.
Acabei de receber a resposta deles: “ Joaquim, depois de falarmos contigo já temos o plano de investimentos definidos para Angola. Vamos lá a breve prazo e queremos que nos acompanhes e apoies, pois o nosso plano, e só numa primeira numa primeira fase, implica: uma quinta com 20 mil hectares para comprar; instalar armazéns com 30.000 m2 para as exportações e máquinas; constituir as sociedades; levar grupos de empresas exportadoras. Vamos fazê-lo ao abrigo dos apoios estatais espanhóis para consórcios exportadores que existem em Espanha, que pagam no primeiro ano 100% das despesas, no segundo ano 60% e no terceiro ano 30% das despesas.”
 
Determinação e visão de privados, apoios expressivos do Estado, financiamento assegurado. Portugal que podia e pode acrescentar valor nesta aposta de Espanha (e da Europa) em Angola e no Brasil, está á espera de quê?
 
 
Artigo publicado no Semanário Económico de 08 de Fevereiro de 2008