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30/05/2008 ERA UMA VEZ MAIS UMA CRISE

Era uma vez uma empresa de tecnologia de informação ou informática, criada não por um PhD, mas por experiente profissional de mercado. Começou com 5.000 euros e em quatro anos tinha chegado ao topo do mercado nacional, gerando mais de 100 postos de trabalho e 25 milhões de euros de facturação.

  

Uma parte desta facturação poderia ter sido comprada pelo Estado português. Mas a famosa, senão mesmo criminosa, central de compras do Estado, continuou durante anos fechada, e enquanto os preços dos produtos e sistemas de informação baixavam, ela continuava a comprar aos preços de 1998, às mesmas multinacionais do costume.
 
Isto não preocupou desde então nenhum Governo, apesar de contribuir para a má despesa, despesa duvidosa, aumentar o défice e excluir a produção nacional.
 
O empresário, jovem activo e inteligente, ignorou a situação, e voltou-se então para mercados novos, para o futuro, para o conhecimento. Apostou milhões de euros em cooperação com universidades nacionais, para criar conteúdos didácticos multimedia. Numa era de plano tecnológico, continuaria a fazer sentido os conteúdos venderem-se e desactualizarem-se em papel? Bem para quem vende manuais escolares faz sentido e para que os compra, apesar de aumentar o défice, não deveria fazer. Mais má despesa.
 
Não satisfeito com a falta de resultados deste consórcio universitário, apostou em conceber e produzir a mais moderna e competitiva tecnologia em quadros interactivos para o mercado mundial. Aqui o objectivo era não apenas o mercado nacional – estagnado, mau pagador, sem ausência de compras públicas a PMEs – mas posicionar um player português como líder num nicho de mercado de elevado crescimento.
 
Nesta altura este empresário duma anónima PME anda a dar a volta ao mundo. E surpresa das surpresas, é melhor recebido por Governos estrangeiros que pelo português. Ainda que por exemplo a AICEP tenha tentado de facto “apoiá-lo”. Com fundos ou com participações em feiras? Não: simplesmente apresentando-lhe o seu maior competidor como se duma grande oportunidade de negócio se tratasse – é o estado da nossa “intelligence”…
Este exemplo de muitos empresários das nossas PMEs, procura inovar, exportar, ter estratégias agressivas que invertam a decadência do mercado interno, por cá contínua, e infelizmente vai-se acentuando a barafunda.
 
Enquanto os preços dos combustíveis sobem exponencialmente e claramente de forma especulativa face á subida do crude em euros (tem subido em dólares, mas o dólar tem caído face ao euro…), os tumultos alastram na Europa, o crescimento vai diminuir ainda mais, e o custo de operação das empresas e de vida das populações agrava-se ao ponto de haver quem já ande de burro ou quem substitua o tractor pela charrua. Pobre país o nosso!
 
Face a isto o Presidente Sarkozy já solicitou a Bruxelas a revisão da fiscalidade sobre os combustíveis. Por cá manda-se a Autoridade da Concorrência investigar o óbvio, ou seja como é possível aumentarem os lucros das petrolíferas e os seus preços, e estas mandarem dirigentes dizer que estavam no limite do lucro da operação! Perante as denúncias à Autoridade da Concorrência, assistimos ao décimo oitavo aumento, que pela primeira vez não foi simultâneo entre todas as petrolíferas. Um “milagre” seguramente num mercado muito concorrencial, onde por dezassete vezes conseguiram decidir, seguramente sem qualquer concertação, subidas simultâneas, e agora sobem um ou dois dias, depois dos concorrentes. Que alívio, afinal os aumentos continuam e há mesmo concorrência!
 
Mas são estas e outras empresas, que vivem á sombra de monopólios ou oligopólios naturais, aquelas que enfileiram o que resta do balcão de Lisboa da Euronext. São estas e outras que beneficiam dos negócios de Estado. Mas não são estas todas juntas que vão fazer crescer o PIB nem o emprego.
 
Estando as PME uma vez mais excluídas de políticas sérias e imediatas, por exemplo com pagamentos imediatos e atempados do Estado, por exemplo sem perseguições das novas polícias “políticas” públicas, porque ao serem discricionárias e subjectivas, só atacam quem julgam sem poder negocial, ou sejam as PME e aqueles que não estão sob protecção política, o que acontece ao investimento e ao emprego? Caem.
 
Neste último caso, a limpeza de ficheiros do INE que retirou do mercado de trabalho 150.000 activos, é um triste exemplo de como uma instituição conceituada permite o “milagre” da descida do desemprego para 7,6%, quando na prática, pelas evidências, pelos fechos de empresas, ele supera os 10%. Seguramente que pelo INE não contam com os que procuram em Espanha emprego que cá não encontram e morrem na estrada!
 
Bem, parece-me que há quem pense que andamos todos desatentos. Não sou tão realista como o Dr. Medina Carreira, mas factos falam por si. A quebra do investimento nacional e estrangeiro, deveria fazer os responsáveis que todos os dias anunciam amanhãs que cantam e novos investimentos, mesmo que do papel não saiam, tirar as devidas conclusões, em última análise aos Ministros, ao menos respeitarem este facto que o Presidente da Republica, e muito bem sublinhou. Que vem aludindo com subtileza à fiscalidade excessiva, a exemplo do que já fizera com a necessidade de apoios ás PMEs.
 
Mas o problema do país, é quem pode decidir, ou não quer ou não pode. E em qualquer dos casos, isso não resolve nenhum problema da economia, só agrava. E nem todos resistem ou têm ânimo para continuar a arriscar e empreender num país que não respeita nem merece os empresários que tem, pelo desprezo, inveja e jacobinismo com que são tratados.
Artigo publicado no Semanário Económico de 30 de Maio de 2008