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09/02/2007 MERCADO IBÉRICO: PRIMEIRA (OU ÚLTIMA) OPORTUNIDADE?

Muito se tem abordado a nossa relação com Espanha. De mercados fechados em países isolados e orgulhosamente sós, Portugal e Espanha começaram a olhar-se de forma diferente no advento quase simultâneo da democracia, e a tratar-se com cumplicidade na adesão subsequente e simultânea à CEE. A queda das fronteiras físicas sucedeu à queda das fronteiras aduaneiras. A moeda comum reforçou fluxos de compras e investimentos crescentes. Empresas e pessoas habituaram-se a interpretar um espaço antes dividido em dois como contíguo e único.

 

Neste contexto, tem emergido o poderio económico de Espanha face a Portugal. O PIB espanhol vale seis vezes o português – só a cidade de Madrid concentra o equivalente a 75% do PIB nacional. Empresas espanholas tornaram-se gigantes, não apenas ibéricos, mas players mundiais – exemplos mais recentes a aquisição pelo Santander do Abbey no Reino Unido ou a licitação de um banco na China pelo BBVA.
Mas onde está realmente a diferença? Onde estão as oportunidades? Porque uns crescem a 3,5% ano e outros por cá, realçam o passarem de crescimento negativo a crescerem pouco mais que um por cento?
 
As diferenças podem ser encontradas nas reformas e nos instrumentos. As autonomias espanholas criaram centros de poder e desenvolvimento económico que puxaram a economia para cima. A convergência entre poderes empresariais, políticos e financeiros regionais, construiu tecidos económicos regionais sólidos. O estado central reformou-se e tornou-se magro e superavitário. A ausência de défice diminuiu o peso burocrático e fiscal sobre as empresas. Estas investem. A confiança espalhou-se na economia: só em 2006, cerca de 750.000 novas habitações construiram-se em Espanha; nos arredores de Madrid nasce uma cidade nova para 300.000 habitantes (nos EUA com sete vezes mais habitantes constroem-se 1,5 milhões de casas/ano).
Eis as lições que podemos reter: menos Estado central, mais decisão regional. Menos peso do Estado, menos necessidade de impostos e menos burocracia. Parece claro e simples.
 
Mas não apenas. Poder político regional e metade da banca sedeada nas regiões e de cariz associativo, explicam por exemplo que a pobre Galiza dos emigrantes para Lisboa, se tenha tornado na pátria da Zara, onde o português é mais inteligível que o Castelhano. E o exemplo dos hoje grupos Inditex, Seur, Halcon, entre outros, mostra como a PYME’s, ou sejam as pequenas e médias empresas de Espanha e das suas regiões, se tornaram grupos económicos fortes e internacionais durante este período.
Havendo portanto a tendência em Lisboa, para focar numa Telefónica ou numa Dragados a pujança económica de Espanha, convém perceber que o sucesso de Espanha está baseado no crescimento competitivo de PME’s regionais, que se tornaram grupos internacionais. E que o fizeram não sem grande apoio de poderes políticos regionais autónomos e eleitos, bem como de cumplicidade intensa entre Caixas Regionais de Crédito e empresas sedeadas nas regiões.
Aprendida que pode estar a dupla lição (banca regional e crescimento das PME’s), passemos às oportunidades. As ameaças, podemos deixá-las para aqueles que levantam fantasmas de vento face a Madrid.
 
E as oportunidades são várias: um mercado poderoso economicamente e que cresce e necessita quem o forneça – a proximidade. Um imobiliário que necessita de quem o construa, mesmo se o dizem excessivo. Mas também uma imagem nova de um país, não inimigo de séculos, mas o país do Figo, da Expo, do Euro’2004, do Mourinho.
 
Apesar de pouca ou nenhuma imagem dos nossos bens de consumo, excepção à Renova, entre outras, Espanha oferece contudo um enorme espaço para as empresas de bens intermédios e que vendem a profissionais e empresas: estas não têm preconceitos, mas profissionalismo.
Além deste enorme mercado de parcerias, de subcontratações, de relações de proximidade, existe um enorme potencial nas autonomias. Barcelona, em guerra aberta com Madrid, prefere portugueses a madrilenos. Estes pagam na mesma moeda. E as rivalidades regionais entre as regiões, fazem com que as nossas vizinhas Andaluzia, Extremadura, Castilla-La Mancha, Castilla-Leon e Galiza, se sintam mais próxima de nós do que dos bascos. O português passou a ser, por ser externo à guerra interregional em que está Espanha, o parceiro ideal para todo e qualquer Galego ou Andaluz.
 
Explorar essas virtualidades exige bem mais do que retórica. Por isso, a Associação das PME-Portugal, a que presido, criou a sua delegação Espanha, e tem lá instalações e delegados espanhóis que apoiam as nossas iniciativas. A delegação da PME-Portugal em Espanha disponibiliza serviços profissionais para que os empresários portugueses possam criar empresas ou estruturas comerciais em Espanha. A delegação das PME’s em Espanha apoia as nossas empresas em questões de localização e sedeação de empresas, pesquisas comerciais, questões fiscais, legais e comerciais, e apoio, inclusivamente bancário e de acesso ao crédito para instalação e exportação para Espanha.
 
Entendemos que mais do que falar em dificuldades, fantasmas ou na triste realidade de falta de apoio à nossa exportação, necessitamos de parceiros e proactividade. É esse repto de acção e não apenas de reacção que queremos difundir nas nossas empresas. Para que seja a primeira oportunidade e não a última que se coloca na vida de cada uma.
 
Artigo publicado no Semanário Económico de 09 de Fevereiro de 2007
Joaquim Cunha

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