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18/05/2007 O DILEMA ECONÓMICO

A economia nacional vive um paradoxo. Por um lado cresceu mais de 2% no primeiro trimestre e as exportações aceleraram, sinais positivos, Por outro lado encerraram meia centena de milhar de empresas nos últimos dois anos, e segundo empresas de informação económica podem encerrar a custo prazo cerca de duzentas mil empresas, o que é um indicador negativo.
   
Assim, devemos estar optimistas e confiantes? Decretar o fim da crise? Ou temer pelo encerramento de unidades produtivas e perda de empregos?
Julgo que infelizmente estas duas realidades não são contraditórias, antes se complementam.
 
Se olharmos para a matriz de crescimento das exportações elas baseiam-se fundamentalmente no crescimento das exportações de automóveis. Faz, aliás, todo o sentido que o país que detém a VW esteja a arrastar as nossas exportações, dado que a Alemanha cresceu no período 3,6%. Já no ano passado a retoma das exportações e tinha sido fundamentalmente á custa de derivados do petróleo, automóveis e minérios - o que não são propriamente produtos industriais com muita manufactura e que se concentram num reduzido numero de empresas.
 
E o dilema está mesmo aí. A retoma do país e das suas exportações está a ser feito em sectores e regiões não tradicionais, que são capital intensivo, e que recorrem a pouca mão-de-obra, qualificada ou não.
 
Assim, esta retoma a que assistimos, passa apenas por um pequeno número de empresas que crescem, natural e proporcionalmente, à sua procura mundial: os derivados e refinados petrolíferos vivem na alta do sector, o automóvel vive o seu sucesso e do país de origem, os minérios assumem nesta corrida às matérias-primas uma nova ênfase.
 
Mas, assiste-se por outro lado a uma perda de empresários, à falta de estímulo e de ambiente para o empreendedorismo, que faz com que no grosso da economia não se sintam esses efeitos que 2,2% deveriam supor. A carga e pressão fiscal são cada vez maiores, a liquidez é baixa, a subida das taxas de juros só irá agravar um problema que se chama endividamento de 122%.
 
Portanto, o momento não é para euforias. Aqui ao lado em Espanha, mesmo com “guerras regionais”, a economia volta a crescer nos 4%, e os economistas andam assustados – aliás a bolsa num dia em Abril caiu 3,5% e as imobiliárias lá cotadas 10%. Mas a realidade é que o músculo que Espanha ganhou nestes anos todos, permite uma robustez e tem um sector financeiro que em ligação com a economia real não deixa cair nem as empresas, nem a bolsa (que retomou no dia seguinte). As exportações em Espanha também cresceram bastante, 10%, o que não sendo explicável apenas por uma forte promoção internacional, decerto ajudará. É que é bem diferente ter 300 milhões de euros bem aplicados pelo ICEX, do que ter zero para aplicação, como o nosso ICEP - porque supostamente quem lá estava em 2006, gastou todo o orçamento mais o do ano seguinte, 2007.
 
Mas se tecnologia e conhecimento podemos importar, e as instituições internacionais, sejam o MIT ou a Microsoft, sabem vender bem a sua tecnologia, gestores e empresários com conhecimento são insubstituíveis. Novos empreendedores, que inovem e sejam arrojados também não são dispensáveis. E neste contexto não será sustentável um crescimento tentar superar a média comunitária, se faça sem os empresários da economia real e sem empreendedores. Não vamos lá só com multinacionais e mega-projectos. É portanto importante acelerar a implementação de mecanismos efectivos de apoio ao empreendedorismo e às empresas. Basta ver como se faz aqui ao lado, em Espanha.
 
Artigo publicado no Semanário Económico de 18 de Maio de 2007