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29/06/2007 PORQUE SE ESCONDEM OS CAPITALISTAS?

Depois do choque com a apresentação do estudo promovido pelo presidente da CIP, com o Governo e muito bem, aceitar discutir o maior investimento público em décadas em Portugal, seguiu-se uma outra dúvida, diria mesmo, uma grande inquietação: quem eram, afinal, os promotores do estudo?
  
Certo que o mesmo não era consensual na CIP e foi conduzido pelo seu Presidente, o estudo foi financiado por empresários, cuja maioria não queria dar a cara. Razão, quase óbvia, não queriam afrontar o Estado – ou se quiserem os puristas – o Governo, e duma forma mais directa, além de estarem a pagar por um estudo que nenhuma mais valia lhes traria, não queriam ter problemas por causa disso.
 
Além das habituais especulações demasiadamente naturais neste país, sob os interesses ou a cobardia dos contribuintes, fizeram-se também ouvir teorias da conspiração absurdas, mas convenientes para quem faz de cada milímetro do espaço público o seu sustento material ou mental.
 
Para as malvas eram mandados quer os autores do estudo e sua qualidade, os seus pagadores e seu mérito de cidadania, o bom senso revelado pelo Primeiro-Ministro e a discrição de ouro que o Presidente tem sabido usar. Todas estas posições, louváveis, foram quase ignoradas para discutir o acessório: afinal quem pagara o estudo? Porquê e com que fins?
 
Além da tese conspirativa dos interesses na margem sul dos pagantes do estudo, outra sobrou. Então os capitalistas que pró-bono pagam um estudo para o país, não querem dar a cara? Então se nem os mais poderosos capitalistas ousam dar a cara, onde está a sociedade civil?
 
Ora bem, esta discussão tida e retomada sempre que se discute a existência ou não de uma sociedade civil forte em Portugal ganhou actualidade.
Não é segredo que temos uma sociedade civil débil, em especial se do outro lado da contenda possa estar o Estado/Governo. Isso não é novo. Era assim há 100 anos. Foi reforçado com Salazar. E não foi descontinuado com a democracia. Mais, substituímos o a bem na nação do regime anterior por um Estado musculado e providencial, uma administração tão forte quanto o peso do Estado na economia e nas decisões.
 
Basta ver quem conta nas empresas, na Bolsa, quem evoluiu nos últimos anos, para encontrarmos grupos cuja dependência da decisão política é enorme, cuja interacção com a administração é total.
 
Se isto é assim para os principais grupos empresariais do país, como será para os “capitalistas” e outros empresários do país? Naturalmente que o temor e o receio são sempre maiores – nunca se sabe o que os espera por trás duma opinião pessoal. É isso bom para o país? Fortalece isso a sociedade civil? Não. Mas é natural que as pessoas tenham medo e receio em dar a cara, sabendo que de forma directa ou indirecta podem vir a ser afectadas.
Por isso o espaço público na área económica, fica cada vez mais reservado ao politicamente correcto, ao sim senhor Ministro, ou simplesmente ao anonimato. Os empresários, de grandes ou pequenas empresas, querem cada vez menos dar a cara. O silêncio é de ouro. Revelará isto, uma grande maturidade democrática? Será isto sinal de liberdade? Claro que não.
 
E só vê no silêncio dos capitalistas uma conspiração, quem não conhece a realidade das relações entre empresas e Estado.
 
Artigo publicado no Semanário Económico de 29 de Junho de 2007