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13-09-2007 O QUINTAL DA SUBSERVIÊNCIA

Sem querer levar o assunto para o caso “Maddie”, pois já está mais que mastigado, a verdade é que, infelizmente, o mesmo serve de exemplo para podermos identificar muito do que se passa à nossa volta.
  
Aquele que supostamente seria o maior debate sobre o caso, e de forma completamente aberta, veio duma forma muito pragmática levantar muitos dos problemas do nosso burgo. Senão vejamos:
 
Como convidado de honra, anunciado com pompa e circunstância, tivemos um psicólogo da vizinha Espanha, que de forma absolutamente profissional veio partilhar a sua opinião, sustentada em teses académicas, tão discutíveis como aquelas milhentas que até agora foram divulgadas.
 
Estranhamente, a mesma figura que entra com garras de leão, sai com pele de cordeiro. E tudo porque a sua tese, duma forma muito generalista parece muito simples. Algo que por ignorância evito comentar, mas que na verdade leva a duas questões: será que em Portugal os psicólogos estavam todos indisponíveis para comentar o assunto? Será que os órgãos de comunicação social não reconhecem capacidade a essa classe para se pronunciar sobre o delicado assunto?
 
De certeza que nenhuma premissa é verdadeira, mas como o que é de fora é que é bom, vamos lá mais uma vez recrutar mão-de-obra estrangeira. E seguramente que não foi pelo preço. Quanto à qualidade, a atitude de todos os outros comentadores foi de absoluto desprezo e chacota, não se percebendo muito bem porquê, até porque o “expert” foi convidado.
 
Mas muito menos se percebe, pelo facto da questão introdutória levantada, não merecer a coragem de comentário por parte de algum dos distintos portugueses presentes.
E qual é? Que Portugal é um Estado de direito, com decisões e responsabilidades próprias, independentemente dos cenários, das metodologias e da nacionalidade dos envolvidos, e que acima de tudo não podem ser beliscadas.
 
Todos os comentários foram no sentido pejorativo. Mas ninguém ouviu a provocação?
Ninguém ouviu que não é Portugal que comanda a investigação?
Que os media ingleses fazem aquilo que os portugueses não têm direito?
 
No limite, e mesmo analisando a presunção de inocência, não é qualquer português que em situação similar se daria ao luxo de utilizar a zona Vip dum aeroporto, sem fazer o respectivo check-in. A audiência com S.S. o Papa, até pelo tempo record em que foi conseguida só serve para corroborar a tese do lobie. Então porque é que em vez de criticarem o psicólogo, que ainda por cima foram convidar, não utilizaram as primeiras frases dele e não as apoiaram, ou no mínimo discutiram?
 
Porque simplesmente é mais fácil ser avestruz, e deixar os assuntos correr.
Neste momento em Inglaterra questiona-se, e com legitimidade, se os McCann vão utilizar os fundos obtidos para a procura da Maddie, para pagar aos seus advogados.
 
E quem é que vai pagar ao Estado português os valores desembolsados até ao momento, numa operação que para além de ímpar, nunca foi posta à disposição dos casos entretanto ocorridos com portugueses?
 
Porque é que a diplomacia britânica, consegue comentar mais o assunto que os responsáveis portugueses?
 
Porque é que estando o assunto em análise nos laboratórios ingleses, continuavam a ser as autoridades portuguesas a serem responsabilizadas por atraso e falta de respostas?
 
Porque é que se critica o circo mediático instalado na Praia da Luz, quando o mesmo foi montado pela Srª Kate ao telefonar à Sky News antes de o fazer às respectivas autoridades?
 
São muitas questões sem resposta, que no limite nos levam a perceber que efectivamente somos muito insignificantes. Pior que não ter personalidade independente, é sermos subservientes desajeitados, a andar ao ritmo do ambiente.
 
Se até nos assuntos que nos são jurisdicionais, passados nos nossos quintais não temos autoridade plena, como é que vamos acreditar que não vamos ser influenciados por outras instabilidades, nomeadamente as económicas?
 
Só em sonho.
 
Artigo publicado no jornal Semanário Económico, de 13 de Setembro de 2007
 
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